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Parime: Encontrado o Lago Lendário Rosa dos ventos

 

O secular mistério do El Dorado foi parcialmente desvendado por um pesquisador da Amazônia, o chileno Roland Stevenson. Seus vestígios foram localizados no extremo norte do Brasil, entre Roraima e a antiga Guiana.

(Adaptado do Jornal "Alternativo" do Meio Norte - Piauí)Caravela

O primeiro obstáculo na obstinada procura do lago dourado era a sua localização exata. Seria realmente o lago Guatavita, na Colômbia, como indicavam algumas tradições? Este chegou a ser parcialmente drenado por vários aventureiros, mas nele nunca foi achado nenhum tesouro.

Dezenas de outros lugares da América do Sul passaram a ser indicados por possíveis localizações do lago e sua cidade de ouro. No Brasil se chamaria Manoa e estaria situado em algum ponto da selva Amazônica.

O pesquisador Roland Stevenson* partiu do fato de que o império peruano dos Incas, riquíssimo em artefatos de ouro e prata só possuía em seu território minas deste último metal. E Gonzalo Pizarro (irmão do Governador do Peru) sabia disto, tanto que organizou um expedição em 1541 à procura das fontes do tesouro inca. Aliás, Pizarro foi o primeiro a falar do lago do El Dorado situado na região amazônica, segundo consta nas cartas ao rei da Espanha.

As primeiras expedições que se dirigiram à Colômbia em busca do ouro não tinham informações de que o El Dorado estaria localizado às margens de um lago. Cieza de León, Fernandes de Oviedo, Benalcazar, os irmãos Jimenes de Quesada, entre outros famosos exploradores da época, não mencionavam nada a respeito em seus relatos.

StevensonSegundo Stevenson, existia uma estrada pré-colom-biana bastante extensa, atravessando parte da Colômbia e todo o extremo norte do Brasil, passando por Roraima e indo findar no litoral Atlântico do Amapá, onde alguns pesqui-sadores descobriram que grupos indígenas como os Waiapí falam a língua quéchua antiga do Peru, a mesma característica dos Taulipang de Roraima, segundo o lingüista Migliazza, exatamente nas áreas de maior potencial aurífero do Brasil.

PedraDesta maneira, um dos grandes mistérios sobre a origem do ouro dos incas parece estar resolvido. Argumento que foi reforçado pelo achado arqueológico de quatro armas ou bordunas de pedras com oito pontas dos soldados desse império, todas encontradas em locais de garimpo de Roraima

O livro bilíngüe de Stevenson, Uma Luz nos Mistérios Amazônicos (Manaus, 1994), é repleto de argumentos e provas que demonstram inequivocadamente a existência de um caminho pré-colombiano.

Em 1584 o espanhol Antonio de Berrio partiu de Tunja (Colômbia) com a intenção de explorar o interior das Guianas. Acreditava o explorador que o misterioso El Dorado localizava-se junto a um lago cercado de montanhas. Berrio entranhou-se nas selvas das nascentes dos rios Orenoco e Caroni, mas não alcançou as regiões em que os indígenas diziam estar localizado o lago Manoa, no outro lado das montanhas Pacaraima Pacaraima mountains (in the Achaua (Ma-noa, na língua Acháua significava "lago"). Quatro anos depois o lago passou a chamar-se Parime

Parime em 1595Inúmeras expedições tentaram alcançar este ponto, que em fins do século XVI já definiam como El Dorado, devido às grandes riquezas que existiam nas montanhas ao redor do lago. O célebre corsário inglês Walter Raleigh, aprisionou Berrio e se apoderou de suas informações, inclusive material cartográfico que lhe serviu para elaborar o mapa desenhado por Thomas Hariot em 1595.

Embora Raleigh tivesse feito sensação na Europa divulgando as riquezas do império da Guiana, ele próprio jamais chegou perto de Roraima, não indo muito além da foz do rio Caroni. Não obstante, os subalternos de Berrio e Raleigh, Domingo de Vera e Laurence Keymis, conseguiram chegar a El Paso, local onde hoje situa-se a cidade de Santa Helena, na Venezuela, próximo ao limite com o Brasil, onde as montanhas Pacaraima possibilitam a passagem por serem mais baixas. Ali os expedicionários ficaram atônitos ao verem que os indígenas usavam numerosos enfeites de ouro, mas ficaram impotentes para prosseguir as expedições pelo reduzido número de europeus.

Quase um século mais tarde, a corrida do ouro direcionou-se para o pequeno lago Guatavita na Colômbia, devido à história do "Homem Dourado", que mais pareceu uma desculpa pelo fracasso das buscas no Brasil.

Auxiliado por pesquisas históricas, geólogos, antropólogos e arqueólogos, Stevenson seguiu os vestígios de um caminho pré-colombiano extinto da bacia de Uaupés, acabou findando em Roraima, identificando aquele que já foi o lago do El Dorado, Manoa ou Parime. Trata-se da chamada região de campos ou lavrado de Boa Vista. Esta imensa região é uma planície, não possuindo mata contínua, apenas árvores (buritis) mas margens de lagoas, rios e igarapés.

Imagem da marca do lagoProcedido o exame da região, descobriu-se que dentro da área do lavrado todas as serras circunvizinhas apresentam uma marca horizontal, uniforme de uma para outra, numa altura de aproximadamente 120 metros em relação ao nível do mar**. Trata-se dos vestígios do nível da água do antigo lago, o qual teria existido até tempos bem recentes.

Estava descoberto então o que foi o lendário lago, localizado entre Roraima e a antiga Guiana inglesa, com um diâmetro de 400 quilômetros e área de 80 mil quilômetros quadrados. Para os pesquisadores que o estudaram, sua extinção somente teria começado há cerca de 700 anos.

Segundo Stevenson, a cidade Manoa provavelmente localizava-se na região ocidental do lago, conforme o indicavam as primeiras cartografias das expedições, a exemplo de Hariot, que a desenhou vizinha a uma ilha de terra firme. O local exato seria a ocidente do que hoje chamamos ilha Maracá, onde na época do lago cheio estaria a foz do rio Uraricuera.

Agora é só esperar o aprofundamento futuro de pesquisas rumo à descoberta dos vestígios da cidade de Manoa para que o El Dorado saia do domínio da lenda e entre para a História.

 

Mapa Parcial

Mapa nº 1 Lago Manoa ou Parime

Este é um detalhe do primeiro de todos os mapas que se conhece sobre o lago Manoa e a cidade ao ocidente (esquerda). Foi desenhado pelo inglês Thomas Hariot em 1595, tendo semelhança incrível com a realidade hidrográfica de Roraima, inclusive as ilhas, hoje transformadas em serras e o leito seco do lago, agora campos de pastoreio. Colocamos os nomes atuais dos rios e a única diferença é que o rio Branco não estava unido ao Negro, o que porém está de acordo com os geólogos, pois foi essa ligação que causou o esvaziamento do lago, entre outros fenômenos.

* Roland Stevenson, o descobridor do lendário lago extinto de Roraima, mostra uma das bordunas de pedra incaica, achadas nos garimpos da região, elucidando o secular mistério da origem do ouro da civilização

** Grupo de jornalistas examina os vestígios do lago, orientados pelo geólogo Gert Woeltje (centro). Pode-se observar nitidamente a marca do nível da água no sopé da serra (seta vermelha) uma faixa horizontal clara.

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